sexta-feira, 11 de agosto de 2023

Das cinzas

 

Às vezes me sinto tão velha

Tão bruxa 

Perdida

Vazia

A criança abandonada

Tão pequena, tão menina

Quebrada em tantas partes 

Que não me vejo no espelho

Dói o peito, falta ar

Falta amor

Violada, esquecida

Caminho sem rumo

Com minhas asas quebradas

Sei que minha solidão é o que marca minha existência 

Mulher invisível, ignorada 

Rebelde, meu corpo queima em busca da verdade 

E nas sombras encontrarei alguma liberdade?

Eu sigo teimosa, com meu olhar de Medusa 

Que saia um grito de luz

Sou Perséfone sem Deméter 

Sou Ísis e colo minhas partes

Renasço

Do meu próprio ventre

Sou  fênix  a cada manhã 

Luz de Luna


quinta-feira, 3 de agosto de 2023

Eu sempre fui o que pude

 



Chegou um tempo que preciso abandonar a mim mesma, o que acreditei sobre mim ou mesmo ouvi. São fragmentos, faces limitadas de todo um potencial que posso desenvolver. Há uma voz que é minha e a quem posso revelar? Estou aqui para quem sentir coração com coração, alma com alma, todo o resto é invenção. Me aproximei do divino para escapar do meu sofrimento, e nem por isso a dor deixa de existir ou a injustiça. Posso eu fazer alguma coisa por mim mesma? Do cedo abandono que vivi parei de confiar em Deus ou mesmo na face da Deusa? Por que me deixaste aqui sozinha, onde estavas quando precisei do teu abraço? Me colocaste com aqueles que estavam mais doentes do que eu para enfim deixá -los e cuidar de mim mesma? Sem anestesia a costurar as minhas próprias feridas? Estou renascendo, confio apesar de tudo. É necessário deixar essas capas, os pesos, as medidas, os julgamentos. Não preciso colocar no outro a responsabilidade que ele não toma. Estou sozinha, o resto é ilusão. Tenho que conviver comigo mesma e me amar. Sou luz, sempre fui, ainda que as trevas caminhem comigo. Não desisto da face divina que me guia, essa face feminina que me sorri e me abraça, para que possa seguir, guerreira que sou minha jornada por essa terra que logo se divide em duas. As estações não são mais às mesmas, nem as pessoas, o clima, ou que mais for, já não se conhece mais o mundo que se viveu. A realidade é sombria para os próximos anos e por isso entre tantos fragmentos há que entrar mais luz, mais luz.

Luz de luna

quarta-feira, 2 de agosto de 2023

As mulheres de verdade

 As mulheres de verdade que deitam sobre suas tristezas e dores e criam algo com ela. Desde o seu útero, sua raiva, seus encantos, seu magnetismo, sua vida...que chegam até nós lembrando que ainda estamos vivas.





Dançando o sonho

 


Tenho estado em uma busca constante por mim, por as partes que reneguei, pelo O que escolhi não ver, por me perdoar por me sentir culpada pelo o que não fiz. Através das dores eu usei como válvula de escape o espiritual e vivi uma vida ainda mais longe de mim para sobreviver. Eu ficava alegre por um pouco de atenção por quem no fundo nunca soube me reconhecer ou amar. Eu sempre estive tão sozinha, que acordei deste sonho e estoi sozinha de verdade para me preservar, para estar comigo mesma e não na confusão dos outros. Dancei para me alcançar, eu sempre me ocultei tão bem que já nem sabia quem sou e nem sei. Mas parei de andar em círculos ou procurar situações onde era rejeitada para depois me sentir injustiçada. Eu estou me autoparindo em direção ao meu segundo nascimento. Eu escutei as mensagens que me levaram até minha filha, e no dia que ela nasceu eu dei luz a mim mesma. Foi tão intenso este dia que desmaiei e perdi a consciência depois de tê-la em meus braços. Eu lembro que tive que voltar para este corpo, para seguir na Terra com ela. Eu sei que não foi só puro cansaço do maior esforço e dor que tive da vida, sem falar as questões psicológicas e traumas que ali eu estava vivendo enquanto trazia uma vida para a terra. Eu sei que fui para o mundo espiritual e sei que sabia que tinha que voltar...e aqui estou dançando o sonho. De tão órfão que fui desde os primeiros segundos no ventre da minha mãe até a força e amor que me unia a minha filha. A mulher em mim acordou. Imagino que só com muita luz foi possível viver o que vivi durante estes anos, escolhi esquecer para sobreviver, mas aqui estou novamente encarando as sombras. Há momentos que sei que só tenho a mim mesma e não sinto que isso seja ruim, que há uma força além de minhas faltas, que há luz na escuridão que tentou tomar minha vida muitas vidas. E eu escolhi a vida, que  este sonho seja uma jornada em direção do amor e de celebrar meu ser quebrado em tantas partes. Estou aqui comigo, cada dia, neste mistério que é reconstrução de tudo o que perdi para tentar pertencer. Eu danço o sonho, danço minha profunda estranheza, minha alegria dolorida, meu caos, meu ser feminino, todo o abandono que vivi me levou até a mim. Respiro e sigo, aprendendo a conviver com a dor e com as alegrias que me vem chegando por estes tempos. Estou chegando a mim mesma.

 É desta oração que derivou a versão atual do "Pai-Nosso".Ela está escrita em aramaico, numa pedra branca de mármore, em Jerusalém...