sexta-feira, 30 de junho de 2023

A difícil e dolorosa experiencia de ser mulher

 Cada dia eu sinto que a mulher que eu sempre busquei não existe, ela não se lembra quem foi, ela não sabe o que é. Ela está tão fragmentada, foi tirada sua parte divina, a transformaram em demônio, a culparam pela sua desobediência, por descobrir a verdade...aos homens? Não lhe fizeram nada, ele também perdeu -se de si, mas em troca lhe deram poder e guerra, é para mulheres um ódio contra a sua natureza teimosa de amor, compaixão, submissão. Aceitou seu cruel destino, dividida, escrava sexual, por vezes dama para certos acordos políticos, moeda de troca, bode expiatório, mas nunca Deusa, sagrada, mãe...seus símbolos foram apagados, corrompidos, usurpados. Os homens nunca entenderam a alma e a força de uma mulher, que a invejam e roubam tudo que podem, até que não sobrou nada, até que as mulheres se tornaram como os homens...

Hoje olho nos olhos das mulheres e não sinto nada, eu mesma não sinto nada, eu nunca conheci uma mulher de verdade, nem fui amada por uma, perdi meu primeiro amor, assim se deu nesta vida, sem amor de mãe.  E como dói a rejeição, como é difícil e dolorosa essa experiência de ser mulher. Não há o que buscar lá fora, não há nada lá fora, nos rejeitam: o mundo, as mães, as mulheres, os homens. O mundo é anti-mulher, as mulheres se tornaram anti-mulher. Estão sempre as pressas com suas carreiras, com seus andares masculinos, com sua voz masculina, com suas mentiras, armaduras para sobreviver a esse mundo. Que difícil tarefa mãe Deméter, tu que sabes que te chamo de mãe para ter uma, para poder ser uma boa mãe para minha filha e para mim. Que sabes que preciso ser surreal para sobreviver, que sabes que não quero mais somente sobreviver, sentir dores. Minha infância expirou minha grande mãe. Já passou minha chance, cresci assim, sobrevivendo sem fé e confiança, buscando um único abraço de consolo, é tu sabes que nunca tive. Eu escolhi assim, apesar de não me ser possível compreender, minha solidão é profunda, mas preciso seguir, para além dessas dores, sou espírito também, sou mulher esquecida, sou mãe sem mapa. Eu só quero estar aninhada em teus braços sem medo de ser quem sou, sofri tantos abusos que nunca soube quem sou, não me foi permitido, mas agora me permito. Olho todas as minhas faces, a mulher que se perdeu, minha alma fragmentada, mas eu a sigo buscando, tu sabes que sou teimosa. Olho para todas elas, essa sou eu, a durona e frágil, ferida, raivosa, alegre, solitária e triste, iluminada, como nunca fui, como sempre sou. Eu posso ser.

















 É desta oração que derivou a versão atual do "Pai-Nosso".Ela está escrita em aramaico, numa pedra branca de mármore, em Jerusalém...