Olhando para a terra é como ver eras
Por onde meus pés passaram
Com muitos sonhos, anseios, ou sem vontade alguma de ir em frente
Quem sabe os verdadeiros desejos de uma alma?
A alma feminina tem seus mistérios
Sua fragilidade
Vinda de uma natureza sofisticada em sentir
Esse sentir tão esquecido nos dias de hoje e tão preciso
Como falar de alma se mal conhecemos o corpo? Se mal podemos ouvir a sabedoria do espírito?
Este corpo muitas vezes tão dolorido
Alma, corpo, espírito
Há tanto para aprender
Abraço-me aos lobos que me guiam
E peço que me orientem meus instintos tão anestesiados por esses tempos sombrios.
Há tempos escrevo, há tempos apago o que escrevi, há tempos nego a mim mesma. Neste exato momento morre uma parte minha enquanto outra parte não consegue largar a dor que conhece. É uma luta constante entre luz e sombra que não leva a lugar nenhum. O medo da sombra, da dor profunda que meu corpo guarda e minha mente esqueceu já não me serve mais. Anestesiei todos os sentidos possíveis, dancei todas as minhas revoltas para descobrir que fui quebrada em tantas partes que até ar me falta. Partes de mim Sempre estiveram mortas, e como uma fênix segui renascendo a cada manhã, eu mal sabia disso, inventei uma história pra sobreviver aos abusos que passei. Hoje compreendo que vivi no meio de estranhos conhecidos que me acostumei a não ser vista, não ser respeitada. Mas a mulher dentro de mim se reergueu e diz pra si mesma que a sua infância perdida tem lugar, mas que ela não pode mais conduzir meus dias. Me apego a vida mesma, cada dia uma dimensão de mim mesma, estou pouco a pouco indo para a superfície, conectando minha luz e sombra, a menina que perdi se tornou na mulher que sou. Necessito de todo o tempo possível para cicatrizar minhas feridas. Do desespero, do tédio, das minhas lágrimas, da minha dor, do não saber mais o que fazer, pois o novo vem vindo, com amor, com paciência por mim mesma. Somente a mim pertence o que passo, minha história, minhas falhas, meu luto, minha força e coragem. Este mundo é hostil as mulheres, nos tiram o tudo, nosso tempo, nosso corpo, nossa alma...nos usam, nos dividem, e nunca temos a nós mesmas. Depois de tudo, de tanto sofrimento, de tanta falta, abandono, rejeição, pude olhar a mim mesma. Cada dia aprendo a conviver com os monstros dentro de mim e a tudo que me passou. Meu tempo é precioso, minha palavras, meus olhos quando vibram de emoção, minha dança, minha mediunidade, minha luz, meu eu. No fim não há céu e inferno, só está experiência por este mundo violento, criado por um deus imperfeito. Eu aceito minha essência divina, meu ser mulher quebrado, minhas células rebeldes, sou livre apesar de tudo, de ainda estar paralisada, estou encontrando cada pedaço de mim mesma, para alcançar meu espírito, a eternidade de minhas experiências. Abro minhas asas, cerro meus dentes. Entre anjos e feras dentro de mim.